Gaussiana



Virei uma estatística, uma reta malfeita, um limite indefinido, uma derivada calculada errada, um ponto aberto no gráfico. Não sou mais uma linha, uma falha que sai na escrita da caneta, a água de limpeza do pincel, os papéis cortados ou o pano sujo de tinta.

Já que não me permito, também não sou uma falha matemática que julga ser tão exata, muito menos uma falha física, no fim, não sou nem um, nem outro.

Sou um ponto que não forma reta, sou uma palavra mal completa, sou um erro amostral, uma etiqueta em um pote de tinta, não me encaixo em nenhum dos mundos, mas também não me retiro de cada um, sou um perdido e largado, um que não sabe nem deixa de saber, sou mais um.

Não sou o melhor, não sou o pior, mas também não estou na média. Não me deixei ir, mas também não me permiti ficar, porém pelas propriedades da inércia também não fui. Não sei bem onde fico nesse plano cartesiano torto e descrito sem uma régua. Não sei bem onde fui me deixar.

Nesse meio tempo e nesse meio lugar, acabei me deixando estar e me odeio por todas as decisões que fizeram com que eu acabasse ali.

Essa questão toda de perder ou pertencer, ir ou vir, ficar ou deixar, de forma explícita não demonstra muita coisa, no meio de suas fibras, linhas adjuntas, risquinhos minúsculos e traços mal desenhados, se esconde intrinsecamente e corrói aos poucos, mas não deixa de ser impiedosamente ridícula.

A verdade é que, nesse mundo bagunçado e revirado onde eu custo a viver com uma dor nas costas que se estende à cabeça e toma meu corpo por completo, eu me perdi. Perdi ou matei minha personalidade, aquela pela qual eu procuro através do relés esforço de me sujeitar a tentar explicar o valor daquilo que eu amo e que é inexato, aquela que eu grito aos ventos procurando e pedindo por ajuda, pela qual eu tento buscar relendo meus escritos e chorando pois não sei mais qual é.

Nessa procura e nessa interminável dúvida, eu continuo meio perdida, sem minha identidade e completamente indigente.

Me perdi igual uma mãe perde uma criança num parque, igual um viciado perde uma aposta, igual alguém que procura por suas chaves. Me perdi e clamo por alguma entidade representante de São Longuinho nesse mundo vil, peço que aceite meus pulinhos e me ajude em troca de mim mesma.

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18.09.2022 

A. Tiemi Yokoyama

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