Abismo


Hoje olho para o meu abismo e,
Como Nietzsche dizia,
Ele olha de volta pra mim.
Abraço a loucura e corro com ela.
Olho para o escuro e me atiro,
Com medo e fascínio
Me jogo e espero que seus braços me segurem,
Que o absurdo me aceite e me levante
Que tenha forças para seguir com o peso.
Olho para o destino e o recebo
Me encontro com Sísifo e lhe dou um sorriso.
Após uma longa jornada
Jogo tudo para o alto e não me martirizo
Fico feliz com a perda.

Olho para o passado e me orgulho.
Vejo o agora e me desespero.
Agarro a insânia
Abraço a tristeza
Compreendo o medo
Sinto com a saudade
E rio com a fraqueza,
Juntos somos um.

Abro os olhos e vejo um céu claro
O escuro me recebeu e acolheu.
Observo o agora e entendo,
Nada foi de fato meu.
Mais uma vez,
Jogo tudo ao alto,
Que algum ser os escolha.

Aceitei o absurdo, agora somos um só
Brigando contra o mundo,
Rejeitando as probabilidades.
Empunho minha espada,
Tomei as rédeas da vida.

Eu e a loucura,
Nela encontrei o sentido do não ser.


10.05.2023
A. Tiemi Yokoyama
________________________
Imagem (Albert Camus) via: pinterest <https://pin.it/2R0XXC8Yc>

. 2° e 3° versos, 1ªestrofe - Referência à frase "Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.", presente no livro "Além do bem e do mal" de Friedrich Nietzsche.

. 11° verso, 1ª estrofe - Referência ao livro "O Mito de Sísifo" do autor Albert Camus.

Comentários